Obra: Os sertões
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo (RJ), no dia 20 de janeiro de 1866. Foi escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador, geógrafo, poeta e engenheiro brasileiro, tendo se tornado famoso internacionalmente por sua obra-prima, “Os Sertões”.
Em Agosto de 1897, durante a fase
inicial da Guerra de Canudos, Euclides escreveu dois artigos intitulados A nossa Vendeia, que lhe valeram um
convite pelo jornalista Júlio de Mesquita do jornal “O Estado de São Paulo”
para testemunhar as operações do Exército na Guerra de Canudos, como
correspondente ao sertão da Bahia. Seu livro "Os Sertões", narra e
analisa os acontecimentos da guerra. Ainda jovem adota ideias
abolicionistas e republicanas. Começa a estudar engenharia em 1885, mas abandona
o curso por falta de dinheiro. No ano seguinte ingressa na Escola Militar, de
ensino gratuito. Em protesto contra a repressão às manifestações republicanas,
em 1888 joga o espadim de cadete aos pés do ministro da Guerra e é expulso da
escola. Readmitido no ano seguinte, após a proclamação da República, chega a
tenente, mas deixa o Exército em 1896 por motivos políticos. Muda-se para São
Paulo, onde recomeça o curso de engenharia e passa a escrever para o jornal “O
Estado de São Paulo”. Acompanha, no sertão baiano, o movimento chefiado pelo
beato Antônio Conselheiro no Arraial do Belo Monte, em Canudos, e o material
recolhido é publicado no jornal e transformado no livro Os Sertões (1902).
Nesta obra, ele rompe por completo com suas ideias anteriores e pré-concebidas.
Percebe que se trata de uma sociedade completamente diferente da litorânea.
Euclides chega a Canudos em Outubro de 1897, a tempo de assistir aos últimos
dias de combate e a queda do arraial. Os fatos que presencia servem para a
elaboração de seu livro Os Sertões, que o consagra como um dos melhores
escritores brasileiros. O escritor pretende contar a verdadeira história de
Canudos, desmistificando a campanha política que se fizera em torno do
acontecimento, denunciando a barbárie e provando que Canudos não era um
problema político, mas uma questão social. Euclides se tornou
internacionalmente famoso com a publicação desta obra-prima que lhe valeram
vagas para a Academia Brasileira de Letras (ABL) e Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB). Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha morre no Rio
de Janeiro, no dia 15 de agosto de 1909.
"Estamos
condenados à civilização. Ou progredimos ou desaparecemos." Euclides da Cunha
Principais
obras de Euclides da Cunha (Textos, Artigos e Livros)
- Em viagem: folhetim. O Democrata,
1884.
- A flor do cárcere. Revista da
Família Acadêmica, 1887.
- A Pátria e a Dinastia. A
Província de São Paulo,1888.
- Estâncias. Revista da Família
Acadêmica, 1888.
- Fazendo versos, 1888.
- Atos e palavras. A Província de
São Paulo,1889.
- Da corte. A Província de São
Paulo, 1889.
- Divagando. Democracia, 1890.
- O ex-imperador. 1890.
- Da penumbra. 1892.
- A dinamite. Gazeta de Notícias,
1894.
- Anchieta. O Estado de São
Paulo,1897.
- Canudos: diário de uma expedição.
O Estado de São Paulo, 1897.
- O Argentaurum. O Estado de S.
Paulo, 1897.
- O batalhão de São Paulo. 1897.
- O "Brasil mental". O
Estado de S. Paulo,1898.
- Fronteira sul do Amazonas. O
Estado de S. Paulo, 1898.
- A guerra no sertão 1899.
- As secas do Norte. 1900.
- O Brasil no século XIX. 1901.
- Os Sertões: 1902.
- Ao longo de uma estrada. 1902.
- Olhemos para os sertões. O Estado
de São Paulo, 1902.
- A arcádia da Alemanha. 1904.
- Civilização, 1904.
- Conflito inevitável, 1904.
- Um velho problema. 1904.
- Os nossos "autógrafos".
Renascença, 1906.
- Contrastes e confrontos. 1907
- Peru 'versus' Bolívia. 1907.
- Castro Alves e seu tempo. 1907.
- Entre os seringais. 1906.
- O valor de um símbolo. 1907.
- Numa volta do passado, 1908.
- A última visita. Jornal do
Commercio, Rio de Janeiro, 1908.
A Obra
Os Sertões é um livro brasileiro,
escrito por Euclides da Cunha e publicado em 1902.Trata da Guerra de Canudos
(1896-1897), no interior da Bahia. Euclides da Cunha presenciou uma parte desta
guerra como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo. Pode ser entendido
como uma obra de Sociologia, Geografia, História ou crítica humana. Mas não é
errado lê-lo como uma epopeia da vida sertaneja em sua luta diária contra a
paisagem e a incompreensão das elites governamentais.
Estilo.Considerada uma obra
pré-modernista, o estilo de Os sertões é conflituoso, angustiado, torturado. Dá
a impressão de sofrimento e luta. O autor faz uso de muitas figuras de
linguagem, às vezes omite as conjunções, outras repete-as reiteradamente.
Ocorre, com frequência, a mistura de termos de alta erudição tecno-científica
com regionalismos populares e neologismos do próprio autor.
Determinismo Racial
Euclides da Cunha deixou claro em
"Os Sertões" seu ponto de vista no que se refere ao racismo. Como a
maioria dos de sua época, acreditava numa "raça superior", e em sua
íntima relação com os de pele clara.
O determinismo considerava o
mestiço brasileiro uma raça inferior
Ciências Sociais. Encontra-se nesta obra de Euclides
da Cunha a separação da nação brasileira entre os povos litorâneos e os
interioranos. Aponta que tanto os litorâneos quanto os interioranos, cada qual em
suas especificidades, se encontrariam em um estado bárbaro de sociedade,
bastava atentar para a crueldade com que se reprimiu o movimento de Antônio
Conselheiro. Além do que, tanto uns quanto os outros eram dados ao fanatismo,
fosse pela República de Floriano Peixoto, fosse pela religiosidade de
Conselheiro.
O livro divide-se em três partes: A
terra, O homem e A luta.
A terra. Na primeira parte são estudados o
relevo, o solo, a fauna, a flora e o clima da região nordestina. Euclides da
Cunha revelou que nada supera a principal calamidade do sertão: a seca. O homem. O determinismo julgava que o homem
é produto do meio (geografia), da raça (hereditariedade) e do momento histórico
(cultura). O autor faz uma análise da psicologia do sertanejo e de seus costumes. A luta. Fala sobre o que foi a Guerra de
Canudos e explica com riqueza de detalhes os fatos dessa guerra que dizimou a
população de Canudos.
Enredo
Narrativa linear, progressiva,
dividida em 3 partes: – a terra, o homem e a luta – associados, para um fim
implícito. Ao mesmo tempo analítico, ao estudar o tipo humano e suas
características.
Análise linguística:Uso da língua – Linguagem utilizada
pelo Autor: Artística Literária, Rica pomposa, Rebuscada, Plástica, Formal.
Tipo de discurso – Narrativo Descritivo:
A Terra; Narrativo Dissertativo: O Homem; Mais Narrativo: A Luta.
Cenário – fundamental para a
composição da história: o sertão e suas vicissitudes.
Ambiente: Externo – Campo de
Guerra, Vilarejo de Canudos.
Contexto
Histórico
Situação do Nordeste no Final do
Século XIX
Fome: Desemprego e baixíssimo
rendimento das famílias deixavam muitos sem ter o que comer.
Seca: A região do agreste ficava
muitos meses e até anos sem receber chuvas. Este fator dificultava a
agricultura e matava o gado.
Falta de apoio político: Os
governantes e políticos da região não davam a mínima atenção para as populações
carentes.
Violência: Era comum a existência
de grupos armados que trabalhavam para latifundiários. Estes espalhavam a
violência pela região.
Desemprego: Grande parte da
população pobre estava sem emprego em função da seca e da falta de
oportunidades em outras áreas da economia.
Fanatismo religioso: Era comum a
existência de beatos que arrebanhavam seguidores prometendo uma vida melhor.
Enredo
A Terra: Euclides da Cunha inicia sua descrição da terra
brasileira dando um amplo panorama dos aspectos geográficos e geológicos do
Brasil. Descreve as formações a partir das grandes linhas mestras do relevo
brasileiro, com detalhes, salientando os aspectos mais importantes, como a
Serra do Mar, da Mantiqueira, o Planalto Ocidental Paulista, o Planalto
Central. E sua descrição vai se deslocando para o sertão da Bahia, quando
então começa a estabelecer as particularidades do relevo e da geologia da área
sertaneja, em especial a região de Monte Santo e o sertão de Canudos - que
destaca num subtítulo chamando-o de Terra Ignota - abrangendo e
balizando seus pontos limites, que corresponde a partir de Monte Santo, ao sul,
até as margens do São Francisco, ao norte. Neste trecho, podemos medir a
percepção do autor, ao narrar a sensação sentida pelo viajante dessas paragens.
Escreve Euclides (p.19):“(...)o viajante mais rápido tem a sensação da
imobilidade. Patenteiam-se lhe, uniformes, os mesmos quadros, num horizonte
invariável que se afasta à medida que ele avança.”A descrição da paisagem
de Monte Santo e o deslocamento das observações para o vale do Vaza-Barris até
atingir o sítio de Canudos, é detalhada. Da narrativa, Euclides traça em poucas
linhas a sua opinião sobre a gênese do sertão nordestino, em particular a área
determinada no interior baiano, relacionando-a com a teoria do mar interior, de
formação cretácea. Cita vários estudiosos que alimentam essa hipótese, como
Hartt e Agassiz. Cita também como elementos corrobora dores, os estudos que
relacionam os depósitos sedimentares e os fósseis, bem como o surgimento
andino. Esboça assim uma vasta planura má sobre a gênese do sertão. Em seguida,
abre um subtítulo para o clima, onde descreve detalhadamente as características
como a temperatura, a circulação do ar, a umidade, etc. Neste trecho, apresenta
observações interessantes sobre a baixíssima umidade reinante – o que destaca
chamando de higrômetros singulares ou bizarro, o processo de mumificação
dos corpos mortos (soldados, sertanejos e cavalos), ali encontrados.No
subtítulo sobre as secas, Euclides chega a detalhar estatisticamente os
anos anteriores mais significativos do fenômeno e tece uma série de hipóteses
para explicá-lo. Aqui registramos também o fato de Euclides da Cunha, numa das
hipóteses traçadas, esboçar a ideia da existência de uma área de baixa pressão
atmosférica. A hipótese sobre a formação dos chamados aguaceiros, tempestades
repentinas que ocorrem em pleno estio, tem uma descrição detalhada.Com
relação à vegetação, Euclides começa por descrever a caatinga, onde personifica
os elementos vegetais, dando-lhes sentimentos humanos.Em razão disso, Euclides
extravasa seu Positivismo (expresso nas concepções do darwinismo social) para a
vida vegetal do sertão, e destacamos um trecho onde isso é evidente, quando a
compara com a floresta. Diz ele (p.37): “A luta pela vida que nas florestas
se traduz como uma tendência irreprimível para a luz, desatando-se os arbustos
em cipós, elásticos, distensos, fugindo ao afogado das sombras e
alteando-se presos mais aos raios do sol do que aos troncos seculares - ali, de
todo oposta, é mais obscura, é mais original, é mais comovedora. O sol é o
inimigo que é forçoso evitar, iludir ou combater.” E mais adiante, conclui seu pensamento dizendo que (p.37):
“(...)as plantas mais robustas trazem no seu aspecto a normalizou,
impressos, todos os estigmas dessa batalha surda.” A ideia do conflito é aqui transposta ao longo da narrativa, e
entremeia-se com as
concepções da adaptabilidade e da luta. Ao falar das espécies vegetais da
caatinga, que denomina de plantas sociais, que não constam dos estudos de
Humboldt, Euclides da Cunha escreve que ali elas se associam para fazer frente
ao meio (p.38): “E vivem. Vivem é o termo - porque há, no fato, um traço
superior à passividade da evolução vegetativa.” As mais importantes
espécies vegetais do sertão recebem tratamento especial: o juazeiro, o
mandacaru (Cereusjaramacaru), o xique-xique (Cactus peruvianus), o umbuzeiro (a
árvore sagrada do sertão) e a jurema. Euclides
da Cunha pormenoriza a descrição de cada uma. Completa esse quadro com a
descrição do que chama de ressurreição da flora - em pleno estio,
um aguaceiro benfazejo traz a vida aquela vegetação ressequida e em
latência. Quando isso ocorre juntamente com aflora ressurge a fauna resistente.
Euclides da Cunha diz então que. E o sertão é um paraíso.
O Homem. O determinismo julgava que o homem
é produto do meio (geografia), da raça (hereditariedade) e do momento histórico
(cultura). O autor faz uma análise da psicologia do sertanejo e de seus
costumes. A segunda parte, O Homem, completa a descrição do cenário com a
narrativa das origens de Canudos. Ali Euclides da Cunha estudou a gênese do
jagunço e, principalmente, a de seu líder carismático, Antônio Conselheiro.
Falou de raças (índio, português, negro), e de sub-raças (que indica com o nome
"mestiço"). Em O Homem o autor caracterizou o sertanejo como
"Hércules-Quasímodo", usando antíteses e paradoxos (Hércules era um
semideus latino, encarnação de força e valentia; Quasímodo era sinônimo de
monstrengo, de pessoa disforme, personagem de Nossa Senhora de Paris, romance
de Victor Hugo). Preparando o ambiente para os episódios de Canudos, Euclides
da Cunha expôs a genealogia de Antônio Conselheiro, suas pregações e a fixação
dos sertanejos no arraial de Canudos. Euclides da Cunha inicia apresentando os
três tipos antropológicos que constituem a base racial da qual deriva diversas
sub-raças brasileiras. Ele manifesta preocupação com essa mistura que, conforme
os pressupostos evolucionistas que o influenciavam,enfraquecia os seres
humanos. Assim, quanto menos miscigenação houvesse mais vigorosa seriam os
homens tanto física como moralmente.
O indígena é o primeiro tipo
apresentado. Os silvícolas encontrados aqui, à época do descobrimento, eram, de
acordo com Cunha, originários de raças autóctones (Próprio do lugar) que
habitavam o continente americano. O segundo tipo, o negro, o mais subjugado e
desprotegido entre os três. E, por fim, o português responsável pelo gens
aristocrático do povo brasileiro, seu elo com a civilização. Para o autor, não faz sentido a discussão
sobre qual dentre as três raças seria predominante porque a tendência é de uma
miscigenação contínua, dando origem a sub-raças, impossibilitando, dessa
maneira, a unidade racial. O único meio
desse povo biologicamente enfraquecido sobreviver é progredindo socialmente, já
que o progresso físico estava comprometido. Cunha associa como era comum
naquele período, o desenvolvimento ou não de determinadas habilidades físicas
ao meio geográfico. O clima e o relevo seriam elementos determinantes na
formação dos habitantes de uma região específica. Para evidenciar nossa
composição heterogênea, ele destaca duas sub-raças, mulata e sertaneja, cujas características singulares são
contrapostas e diretamente
vinculadas ao meio ambiente na qual
foram forjadas, uma no litoral e outra no sertão. Ele trata primeiramente do
mulato, cuja gênese está fora do país. Embora a mistura entre branco e negro já
acontecesse em Portugal, no Brasil, ela ganhou uma dimensão irreversível. O
autor põe ênfase na subordinação cruel imposta aos africanos a ponto destes
serem percebidos em relação de equivalência valorativa com um animal de carga.
Aqui, os negros foram debilitados pelos grilhões e pelos desejos lascivos dos
brancos. O mulato brasileiro surge quebrado pela servil idade dos negros e
contaminado pelos vícios dos brancos, tornando-se, segundo Cunha, o tipo característico do litoral. O segundo tipo é o sertanejo, cuja
origem remonta aos desbravadores bandeirantes oriundos de São Paulo e sua
mistura com os indígenas. Por ser uma sub-raça mais pura, é também mais
forte. O homem do sertão é apresentado
sob três espectros: o jagunço, o vaqueiro e o gaúcho. Os três são vigorosos,
mas o jagunço se sobressai porque é mais tenaz e mais resistente. Nas palavras
de Cunha, os sertanejos eram retrógrados, mas não degenerados como os
habitantes do litoral. O isolamento fez
com que tivessem hábitos próprios e grande apego às tradições, com destaque
para o sentimento religioso levado até o fanatismo. O sertão era, portanto, um lugar propício
para que uma figura como Antônio Conselheiro encontrasse interlocutores. O
sertanejo é, por suas contingências existenciais, pouco desenvolvido
psiquicamente, por conseguinte, sua forma de cultivar a religiosidade era
despida de conteúdos racionais mais elaborados. O autor define sua religião
como mestiça, fundada, entre outras coisas, sobre um monoteísmo
incompreensível. Incorpora elementos de religiões, narrativas e práticas
distintas: “o antropismo do selvagem, o
animismo do africano [...] e o aspecto emocional da raça superior na época do
descobrimento” (CUNHA, 1984: 80). Distantes
da civilização e da sua modernidade secularizada, os sertanejos tinham suas
vidas marcadas pelas crendices e superstições. Sua sobrevivência estava
vinculada exclusivamente a terra. Essa situação de vulnerabilidade tornava-os
propensos a buscar auxilio no sobrenatural.
Daí, estarem sempre prontos a seguir os messias que apareciam naquelas
paragens inóspitas e esquecidas. Diante das necessidades imediatas dos
sertanejos, o catolicismo dos primeiros missionários, com sua ênfase no
transcendente, não poderia prevalecer soberano sobre a magia dos africanos e
dos indígenas. Com o tempo, os
missionários não só se dobraram a religiosidade mágica daquele povo como também
se tornaram seus fomentadores. Conforme Cunha, eles destruíam, apagavam e
pervertiam tudo que foi ensinado pelos primeiros evangelizadores. Usavam a
credulidade dos ingênuos para dominá-los.
O temor que lhes inculcavam era tão grande que os tornavam facilmente
manipuláveis. Não sem razão, Antônio Conselheiro, com sua “tranquilidade, altitude e resignação soberana de apóstolo antigo”
(CUNHA, 1984:86), conseguiu cativar de imediato à atenção desse povo
sofrido. Sua insanidade e atavismo eram bem convergentes com as expectativas
daqueles sertanejos de mentes obscurecidas. Conselheiro era, segundo palavras
do autor, um gnóstico bronco que “aceitou” a missão de apontar o caminho para
pecadores. Euclides da Cunha atribui à herança familiar, a predisposição
belicosa do líder religioso, embora este tenha sido descrito como tranquilo e
tímido na juventude. O fato que
desencadeou a manifestação das características latentes teria sido o adultério
da sua esposa. Após o fatídico episódio, ele abandona sua terra natal,
Quixeramobim no Ceará, vai para o Sul do Estado e desaparece, reaparecendo dez
anos depois na Bahia, já com sua aparência de profeta e envolto por lendas. A
disciplina de asceta, com todas as suas dores e misérias, legitimava sua
santidade e atraía cada vez mais seguidores.
Agindo como um profeta veterotestamentário, põe-se a denunciar e a
combater o poder estatal e sua república, e o poder eclesiástico representado
pela Igreja Católica que, segundo suas palavras, tornara-se serva de Satanás.
Euclides da Cunha encerra a segunda parte
narrando o episódio em que a Igreja Católica envia alguns clérigos para tentar
demover o movimento e implantar uma missão no povoado. Embora tivessem permanecido por um tempo e
realizado alguns sacramentos, os representantes da Igreja Oficial foram
veementemente rejeitados. A fidelidade dos sertanejos ao Beato era inabalável e
os fizeram resistir até a morte, certos de que encontrariam do “outro lado” o
paraíso.
Catológico, os seguidores deveriam
se desapegar de todas as coisas mundanas porque o fim estava próximo.
“O Sertanejo é antes de tudo um Forte”
Euclides da Cunha
A Luta:
Antecedentes:
“...
a pacificação do sertão de Canudos era algo urgente”; segundo o governo da
Bahia, a desordem seguida de toda sorte de atentados se alastrava por todas as
cidades circunvizinhas. O mal era antigo; homens fazedores de deserto. Como não
havia quem mandasse, o banditismo se impunha.
“O jagunço saqueador de cidades sucedeu ao garimpeiro saqueador da terra, o
mandão político substituiu o capangueiro”.Numa espécie de
metamorfose coletiva, ocorre a mudança do perfil deste jagunço; “imaginemos que dentro do arcabouço titânico
do vaqueiro estale, de súbito, a vibratilidade incomparável do bandeirante;
teremos o jagunço”. É um produto histórico expressivo. A pátria dos
jagunços é dita pelo autor como pátria original dos homens mais bravos e mais
inúteis da nossa terra, “... alugam sua
bravura aos potentados”.O arraial de Bom
Jesus da Lapa era a Meca dos sertanejos. A religiosidade caminhava de braços
dados com a vingança e ambas movidas pela fé equivocada, prova disso no texto
onde o autor relata que “no templo ante
as dádivas que fazem em considerável copia no chão e às paredes do estranho
templo, junto às imagens e relíquias, um traço sombrio de religiosidade
singular: facas e espingardas...
O bandido
sertanejo entra no templo e reza, bate no peito, sonda suas culpas como que
cumprindo sua promessa onde se tudo desse certo ele voltaria em agradecimento.
Alivia-se de seus remorsos. Não há arrependimento; e reata a vida temerosa.Cidades como
Pilão Arcado, Xiquexique, Macaíbas, Monte Alegre e outras destruídas e
destituídas de sua beleza em consequência ao velho regime de desmandos, se
curva a fúria do banditismo disciplinado; é paradoxal, mas exato.Na
condescendência da lei, a população mestiça se fortalece e cresce; por um lado
os cangaceiros nas incursões para o sul e por outro lado os jagunços nas
incursões para o norte, cenário este prestes a mudar, pois a oposição violenta
ou insurreição, da comarca de Monte Santo as ligaria. A campanha de Canudos
promoveria “(...) a convergência
espontânea de todas estas forças, desvairadas, perdidas nos sertões”. Do
ponto de vista político, quando o povo se une faz a diferença.
As causas
próximas da luta deram-se da seguinte maneira:Já que as
caatingas paupérrimas de Canudos não podia fornecer a madeira que Antônio
Conselheiro precisava para o novo templo, ele a adquiriu em Juazeiro
contratando o negócio com um dos representantes da autoridade daquela cidade,
mas o material não lhe fora entregue, atitude esta que para Antônio Conselheiro
fora um distrato, rompendo assim o negocio. Como o principal representante da
justiça de Juazeiro tinha uma quizila antiga com Antônio Conselheiro, tomou
proveito da situação para promover sua afronta.
Foi o estopim. Antônio
Conselheiro ante a quebra do trato jurou ameaças de uma investida a bela cidade
de São Francisco, seu adversário ciente que Antônio Conselheiro revidaria à
provocação, buscou socorro e proteção urgente junto ao Governo e as forças
militares num gesto de prevenção, e se necessário fosse, utilizando a força
necessária para rechaçar Antônio Conselheiro e seus jagunços, garantindo assim
a cidade. Para tal desfecho, foram solicitadas 100 praças de linha, e tal
solicitação foi aceita pelo General Comandante. A prioridade era
assegurar que aqueles bandidos não invadissem a cidade, entretanto, em desdém
aos antecedentes da questão, o governo da Bahia não lhe deu a devida
importância, por isso enviaram apenas 100 homens. Neste tempo, Antônio
Conselheiro há 22 anos já era conhecido e temido em todo interior sertanejo e
nordestino e até nas cidades litorâneas aonde sua fama chegara ainda que muitas
vezes exagerada, todos o temiam. Antônio Conselheiro por onde passava, deixara
sua marca, de uma caminhada peregrina, demarcando cada passagem fazia cada vez
mais adeptos fervorosos ao seu estilo de crença e vida abstenha, assim uma nova
ordem política surge então entre eles. As atitudes de Antônio Conselheiro e o
crescimento dos devotos de perfil comum ao mais excêntrico começaram a
incomodar o governo e a medida que a tal situação aumenta, o comentário chega
ao Congresso Estadual da Bahia chamando “(...)
a atenção dos poderes públicos para a parte dos sertões perturbada pelo individuo
Antônio Conselheiro(...)”, diante disto, Frei João Evangelista
(missionário), elabora um relatório informando que em Canudos excluindo-se
mulheres, crianças, velhos e enfermos, existia cerca de 1000 homens robustos e
destemerosos armados ate os dentes, de uma dedicação incondicional à Antônio
Conselheiro; tais homens dificultavam o acesso à Canudos.
1ª. Expedição
Enviada em novembro de 1896 com cerca de
104 soldados.
No comando o tenente Pires Ferreira.
Dia 21 do mesmo mês, a tropa retrocede.
Prelúdio da guerra sertaneja.
General Frederico Solon em obediência a ordem já referida do Governador da Bahia, separa um grupo de 100 soldados para ir bater a Canudos, tendo à frente Tenente Manuel Pires Ferreira para tal missão.Se comparado com a população de Canudos mais os rebeldes fieis a Antônio Conselheiro, a pequena milícia restara à derrota inevitável. Esta milícia orientada por 02 guias contratados e Juazeiro devidamente paramentada com recursos indispensáveis a travessia, percebe que além do inimigo que os aguardava também tinham o sertão em plena época de estiagem e toda caatinga como também o sol intenso como seus primeiros agressores.Após penosa travessia, a tropa chega ao arraial de Uauá para uma breve parada para reposição de forças. Dois dias depois na madrugada, a pequena expedição chega para o combate julgando surpreender o adversário.Grande engano!
De longe nem
Canudos e muito menos sua população possuíam aparência guerreira. A bandeira do
Divino com símbolo de paz os guiava e ainda carregavam uma grande cruz de
madeira conduzida por braços fortes de um crente, enquanto os jagunços armados
de toda sorte de armas possíveis se misturavam aos fanáticos munidos de seus
rosários de coco que seguiam para batalha rezando e cantando. Disseram depois
que cerca de 3000 pessoas foram lutar por Canudos, mas na verdade apenas 1000
aproximadamente.
Num gesto brutal
e súbito, os soldados começaram a atirar no povo quando de pronto, centenas de
jagunços armados saem envolta. O massacre foi inevitável; Canudos estava
protegida e o povo gritava viva ao “Bom Jesus” e a “Antônio Conselheiro”
enquanto ainda neste cenário se via a bandeira do Divino estraçalhada de balas
e suja de sangue sendo erguida em meio a santos e armas também banhadas de
sangue, e a roda dos símbolos sacrossantos, dezenas de matutos mortos,
fuzilados em massa num conflito de aproximadamente 04 horas. “(...) enquanto as linhas de telegrafo
transmitiam ao país inteiro o prelúdio da guerra sertaneja”.
2ª. Expedição
Saem de Monte Santo cerca de 343 soldados
em 12/01/1897, comandada por Major Febrônio de Brito.
Novamente fracassam, falta de conhecimento
da caatinga.
Insucesso militar provoca impacto nacional.
Formada a principio por 243 soldados e posterior ingresso de mais 100 homens.O episodio de Uauá requereria revide. De um lado o chefe da força federal na Bahia considerava a situação seria quase uma guerra; por outro lado o governador do Estado, otimista, considerava a situação apenas uma agitação sertaneja. Neste ambiente político, organiza-se a 2ª. Expedição sem um plano firme.O major Febrônio de Brito fora designado à frente desta operação, enquanto isso, os comentários sobre Conselheiro e seus jagunços só faziam crescer. Interesses inconfessáveis de uma falsa política extraia proveito da situação.Agindo como quem compreende a situação, o comandante organiza seus soldados em 02 pontos ou colunas para a operação, porem mantinha-se um único objetivo que sob a direção geral do coronel Pedro Nunes Tamarindo, marcharia baseado numa única estratégia antiga e simples, e a seu julgar eficaz, que era dividir para fortalecer.
A peleja se
travara em plena caatinga. Para o jagunço, a natureza no sertão o protege como
num relacionamento antigo, ela o entende, o acolhe. Diante da natureza no sertão
o sertanejo vira um titã bronzeado.
A despeito de
tudo, e excesso de confiança do general Sólon o fez preestabelecer a vitória
inevitável sobre a rebeldia sertaneja insignificante; e não apenas ele, mas
também o governo da Bahia subestimou o adversário, julgavam que acima do
“desequilibrado” que dirigia os sertanejos, estava toda “uma sociedade de retardatários, e o ambiente moral dos sertões
favorecia o contagio e o alastramento da nevrose”.
Na travessia do
Cambaio já com sentimentos de triunfos antecipados, a 2ª. expedição chega em
Monte Santo, tomando como base de operações o pequeno povoado de Frei Apolônio
de Todi. O que restara da 1ª. expedição ainda estava por lá e se juntam a
2ª.expedição e num brado de revolta eles diziam que os rebeldes seriam
destruídos a ferro e fogo. Era necessário dar-lhes uma lição, daí o motivo
desta convocação geral.
Possuídos pelo
contagio desta crença espontânea, os habitantes de Monte Santo e a tropa
compartilhavam da mesma esperança... A derrota dos fanáticos, mas embora
movidos por tal confiança, o provável fracasso desta nova expedição era
iminente, pois planejou uma forma de investida, uma estratégia de combate que
na pratica não foi executada. Era possível enxergar o medo por detrás daquela
falsa confiança.
A marcha para
Canudos fez-se em condições desfavoráveis; embora o caminho era curto, todavia
extremamente acidentado e graças ao guia
Domingos Jesuíno (um leal sertanejo ), as tropas chegaram até Rancho das Pedras
já próximo a Canudos. Subiram a serra com toda parafernália de combate;
enquanto os jagunços escondidos em moitas esparsas ou no alto aparecerem em
ataque numa verdadeira chuva de tiros. Toda a expedição caiu, enquanto o
recontro dos jagunços triunfantes com a população de Canudos fazia-se com grande
gritaria vivas ao “Bom Jesus” e a “Antônio Conselheiro” e com ironia gritavam:
“Avança! Fraqueza do governo!”.Neste cenário
também surge o chefe dos jagunços, um negro corpulento e ágil, um perfil de
gorila, possuído por uma natureza animal indomada, chamado João Grande, dele
partia as manobras de contra ataque aos soldados. Este ser era quem saiu à
frente num recontro decisivo braço a braço, que infelizmente não ocorreu porque
fora impedido de avançar devido a uma explosão.
Assim a 1ª.
coluna num combate de quase 03 horas, é derrota e mais uma vez os jagunços saem
vencedores.
A 2ª. coluna de
soldados chega exausta a tarde na orla do arraial e prefere descansar, enquanto
os jagunços escondidos nas caatingas sobrerroldas os espreitava. Chega à noite,
a tropa adormece sob o olhar do inimigo. Ao amanhecer um soldado
equivocadamente solta um tiro de canhão e como um sinal de combate, a luta
recomeça. Pegos de surpresa, os soldados rapidamente se armam e revidam numa
tentativa frustrada de intimidação ao adversário que sem se importar vêm para
cima deles e pela 1.a vez os soldados veem de perto a face do inimigo e começa
a matança.
Parecia que a
fome e sede de vingança eram insaciáveis aos jagunços que sem excitar avançaram
para dar cabo do inimigo que a esta altura dos acontecimentos já haviam perdido
alguns homens e assim decidem recuar, enquanto os jagunços também feridos, mas
vitoriosos retornavam para Canudos, cientes que o adversário voltaria.O povo de
Canudos ao ver a chegada dos jagunços naquele terrível estado entrou em
desespero. O encanto de Antônio Conselheiro se havia quebrado. Alguns juntaram
seus poucos pertences e fugiram enquanto era tempo. As mulheres aos prantos, em
gritos e rezas estéricas, agitavam seus rosários e vão a porta do Santuário implorando
a presença do evangelizador, mas Antônio Conselheiro que em dias normais
evitava encara-las, permaneceu em separação completa. Ele sobe com alguns fieis
para cima da igreja nova, lá embaixo o agrupamento agitado e em pânico reza;
neste momento chega a noticia que a forma inimiga recuara. Foi um milagre! O
que era desordem agora desfecha em prodígio.
Major Febrônio
retira suas tropas, pois naquele momento estavam extintas as esperanças de
sucesso, restava apenas o recurso de oscilar entre a derrota e o triunfo. Os
soldados foram recebidos em silencio pela população.
3ª. Expedição
Parte do Rio de
Janeiro com 1300 homens em 03/02/1897
No comando Coronel
Moreira Cesar.
Sem um plano tático,
em 02/03 a tropa fragmenta-se e perde a luta.
A República estava em perigo.
Coronel Antônio
Moreira Cesar, homem de uma tenacidade rara, de características parecidas a do
Marechal Floriano Peixoto (o marechal de ferro). Um novo ídolo de batalha era
escolhido, o novo chefe da expedição vingadora de 1300 homens fortemente
munidos.As três semanas
seguintes ao ultimo episodio contra Canudos fora fator decisivo para o
crescimento populacional de Canudos, pois com a noticia da derrota da expedição
do coronel Febrônio, estava destruída quaisquer que fossem os últimos resquícios
de incredulidade do falastério Antônio Conselheiro. Os peregrinos vinham de
longe trazendo tudo quanto podiam carregar, entre a carga, vários enfermos,
cegos, paralíticos e “lázaros” à espera de seu milagre. Mulheres, beatas,
vaqueiros, pequenos criadores, bandidos e jagunço. Cargueiros repletos de toda
a sorte de mantimentos eram ofertados por adeptos de longe.Os jagunços eram
divididos e direcionados para locais específicos e iam felizes. Todos os tipos
que chegavam e se ofereciam para defesa de Canudos eram supervisionados por
João Abade.Após acamparem
na caatinga próxima a região do provável combate, o coronel Moreira Cesar
decide dividir a expedição em 02 colunas, a 1ª.faria o reconhecimento e o
primeiro combate, enquanto a 2ª. entraria em ação como reforço e assim, partem
unânimes para o confronto. Ao chegarem a Pitombas, estoura uma descarga de
tiros, era o inimigo afinal.
Os soldados
disparam suas armas contra ele; que aos olhos do Cel. Cesar estavam armados de
maneira insignificante se comparada aos seus soldados. Nisto, o guia Jesuíno
aponta para direção do arraial de Canudos, e o Cel. Cesar manda dar dois tiros
como “cartões de visita a Antônio
Conselheiro”. Do alto da montanha a tropa, lá em baixo no sopé Canudos. Com
tiros de armas e de canhões, Canudos é confrontada; seus casebres agora
começavam a ser destruídos ou incendiados pelos tiros dos canhões, de repente o
sino da igreja velha bate, como que convocando os fieis a batalha e em seguida
o mesmo se emudece enquanto os soldados começam a descida montanha abaixo visto
que não há aparente revide.Confiante da
vitória, o Cel. Cesar manda a maior parte dos soldados descerem para adentrar
Canudos, estes são recebidos a bala e dispersos correm para os estreitos becos
do arraial e lá são mortos por jagunços e pelos habitantes de Canudos. De um
lado do vilarejo os jagunços venciam, do outro lado vendo que era possível o contra
ataque, o coronel Cesar envia a cavalaria que avança praça adentro e em meio à
peleja, o mesmo coronel resolve também descer para lutar, mas enquanto descia
leva 02 tiros no ventre estando mortalmente ferido. Amparado pelo tenente
Ávila, ambos retornam ao lugar que deixara. Sem comando, aos
poucos todas as linhas de combate recuam; agora o coronel Tamarindo o
substitui.
Era fim de
tarde, e ao com do sino da velha igreja, se ouve as primeiras notas de Ave
Maria.Morto coronel
Cesar, o desânimo toma conta dos soldados; a retirada como fuga era a melhor
opção e mais uma vez os jagunços de Antônio Conselheiro levam a melhor. Ainda
de proveito a situação, os jagunços recolhem os despojos de guerra.Os rebelados de
Canudos tinham a certeza que mais um milagre lhes agraciou o céu. A fé nutrida
e revigorada na brutalidade dos combates crescia fazendo reviver todos os
instintos bárbaros e aflorando a índole que mediante tais fatos, se tornara
maligna. Neste mesmo cenário, morto em meio a caatinga, estava o coronel
Tamarindo.
4ª. Expedição
Sob
o comando do General Artur Oscar
Em 05/04/1897 a expedição possuía
cerca de 4283 homens, embora alguns diziam ser quase 6000 homens.
Divididos em 02 colunas, em
16/06/1897 a 2ª. coluna vence os jagunços, enquanto a 1ª.coluna em 19/06/1897
teve um insucesso.
As
colunas novamente juntam-se.
Morre
Antônio Conselheiro.
Fome e sede, bombardeios e
incêndios... Em 05/10/1897 Canudos chega ao fim.
Comoção
nacional, é organizada a 4ª.expedição. A República estava em perigo.Canudos agora
era um problema nacional. O que restara da Monarquia estava se estranhando com
a República. Jornais da época diziam que a crise sertaneja era uma conjuração
política; era hora de agir dizia o governo da República e ainda acrescentava “(...) estava em jogo em Canudos, a sorte da
República”.Em Juazeiro no
Ceará um tal de padre Cícero conglomerava multidões em favor de Antônio
Conselheiro e tanto em Pernambuco como em Minas Gerais outros lideres fanáticos
e excêntricos se rebelavam contra o governo e à favor de Antônio Conselheiro.
Era o momento de salvar a República, ainda que se necessário fosse, fizesse
mártires. Tropas de vários estados se juntaram e convergiam na Bahia.
Sob comando
geral do General Claudio do Amaral e a
frente do comando expedicionário o general Artur Oscar, se decidiu que a
investida seria por dois pontos; a
primeira partindo de Monte Santo e a segunda de Jeremoabo/SE, de lá ambas
convergiriam para Canudos.O general Artur
Oscar traça um plano para invadir Canudos e derrotar o inimigo da Republica,
Antônio Conselheiro. Um pelotão de mais de 3000 homens caminham contra Canudos.
A primeira coluna é recebida de surpresa pelos jagunços, e esta depois de
insucessos e ataques, recua e se junta a 2ª.coluna.Se o morro da
Favela favorecia os jagunços, o canhoneiro da segunda coluna agora fortalecida
com o remanescente da primeira fulminava os casebres já em ruínas devido ao
ataque anterior. Bravamente os jagunços resistiam.
O coronel
Claudio A. Savaget que comandava a segunda coluna era homem ágil, elástico,
firme, e esta coluna liderada por ele era bem organizada e abastecida. O tenente coronel Sucupira de Alencar Sergipe
e major João Pacheco de Assis, comandavam junto com coronel Carlos Teles numa
inteiriça organização militar do nosso exercito.
Ao se
aproximarem dos arredores de Canudos estando todos bem preparados, de
longe percebem o inimigo escondido nas
caatingas e já começa ali mesmo o primeiro tiroteio; os sertanejos revivem as
cenas das batalhas anteriores. Os soldados divididos em pequenos batalhões
rapidamente se põem em posição estratégica de ataque; desnorteados e surpresos
com a tática combinada dos soldados, os jagunços encurralados são forçados a
sair de seus esconderijos para outros pontos. Nisto, percebe-se que o coronel
Savaget fora atingido em combate, enquanto os sertanejos num sucesso incompleto
retornavam a seus postos, abatidos, porém não esmagados.
A caminho de
Canudos, tropas e os batalhões seguiam em confronto direto como inimigo, que
por sua vez resistia ferozmente.
Vitoria singular
para os batalhões que a cada junção de equipe celebravam a coragem sobre o
medo. Em 28/06/1897 as tropas chegam a Canudos, do alto eles veem um vilarejo
aberto que não suportaria por muitas horas as balas mergulhantes de 19 canhões
modernos. O primeiro tiro partiu e bateu em Canudos direto na igreja nova; o
baluarte dos sertanejos começara a ruir.
A nevrose
desmedida tomara conta de todos em Canudos como também dos soldados; e estes a
meia ração agora com o passar das semanas, entrariam em regime de privações ate
chegarem às provisões ou o comboio com os alimentos, o que na realidade, tal
comboio nunca existiu.
A fome assolara
o exercito, que bravamente em suas posições sitiavam Canudos; e a medida que a
fome aumentava e a pouca provisão também se esgotava, o desanimo e a resignação
se apoderavam dos soldados onde, contrario aos jagunços, faltava aos soldados o
espírito de resistência, da altivez selvagem do sertanejo.
Ora os
sertanejos investiam contra os soldados surpreendendo-os em seu acampamento,
ora os soldados com suas armas atiravam contra o inimigo. Já era 01/07 e a
situação só piorava, foi então que o general Artur Oscar se transmuda e toma
uma decisão tática; a imobilidade, ou seja, esgotá-los pelo cansaço,
aproveitando que as duas colunas ali reunidas estavam apenas a um tiro de
distancia do vilarejo. Se cria um plano de assalto, os batalhões se dispõem ao
redor e começa a chuva de balas, reiniciada também as inúmeras baixas; mas nada
parava o exercito que tinha como ordem avançar e carregar enquanto a
resistência dos jagunços se mostrava indomável.
Era 18/07 e
enquanto o exercito defendia a República, os jagunços defendiam seu lar.
Paralelo a isso, os telégrafos enviavam a notícia recebida por todo país que os
bandidos estavam encurralados e que a vitória era certa! Oficiais ilustres e
outros importantes, feridos ou enfermos na batalha, agora se volvem a República
que os recebe como heróis e aos demais soldados que voltaram, restavam à
comoção unânime da população.
Era agosto de
1897, e o então general Miguel Maria Girard a frente das operações, chega a
cidade vizinha de Canudos. Os soldados dia após dia estavam sendo dizimados
pela varíola. Se não pela moléstia, era mais um ataque fracassado. O governo
ciente do ocorrido reage rápido e envia para base de operações o Secretário de
Estado dos Negócios da Guerra, Marechal Carlos Machado de Bittencourt, com ele
novos lutadores para peleja, e todo mês de Agosto gastou-se nesta mobilização.
Em 23/08 num
tiro do poderoso canhão, o sino da igreja vem abaixo; agora cerca de trinta
batalhões fora o corpo de outras armas, sitiavam Canudos. A luta entra numa
nova fase. Os soldados analisavam chocados os prisioneiros, começara a tornar
evidente que a companhia de Canudos tinha o objetivo superior a função estúpida
e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões; “havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e
digna”.
No dia
06/09/1897 caem às torres da igreja nova após 06 horas de bombardeiros. Aos que
tentaram fugir de Canudos, a vanguarda lhes concedia a morte como prêmio. Aos
poucos, dia pós dia, os rebeldes eram abatidos dentro das caatingas, pelas
estradas e vilarejos.
Mediante a
tantas circunstâncias, a essas alturas o acampamento dos soldados já se
assemelhava com um arraial; convivendo num espetáculo diário de morte esses
mesmos soldados moviam-se despreocupados da vida.
Em Canudos, os
fanáticos e devotos a quase completo jejum em prol dos que os defendiam,
estavam às vésperas da morte. Uma vida atroz. A miséria, o completo abatimento,
angústias indescritíveis recaia sobre os habitantes de Canudos, quando em
22/08/1897 morre Antônio Conselheiro. Igrejas tombadas, Santuário arrombados,
santos quebrados, uma visão infernal da “embaixada do céu”. Em profunda
amargura e desilusão, Antônio Conselheiro vai além da abstinência costumeira,
seu absoluto jejum seria um dos protagonistas de sua morte. Cai de bruços com a
fronte em terra dentro do templo em ruínas e no aconchego de seu peito um
crucifixo de prata. Antônio Conselheiro seguira em viagem para o céu, dizia os
humildes fiéis.
Os soldados
adentram as ultimas vivendas e dessa vez
os jagunços não contavam que eles fossem até lá, e os poucos jagunços
que restaram, agora feridos, famintos e enfermos, procuravam inutilmente resistir.
Canudos estava bloqueada, seu fim se aproximara. A insurreição estava morta;
mas espere... Os vencidos parecem revivescer. Os combatentes olham para eles e
veem heroicos. Ainda assim, a derrota iminente de Canudos chegara.
Coronel Sotero
de Meneses e coronel Firmino Rego estavam decididos a tomar o arraial. Lá a
sede castigava; os habitantes de Canudos tentavam cavar poços, mas não passava
de 02 metros de profundidade, o que parecia servir-lhes para trincheiras de
cadáveres. Cessa o revide de Canudos em 28/09/1897.
Os soldados
caminham nos estreitos corredores do arraial e de súbito a pouca resistência
dos jagunços que ainda restara, ressurgi numa espécie de ataque o que na
verdade parecia mais um bote. A Praça de Canudos pela primeira vez transbordava
de combatentes, um viva a República ecoa, os sertanejos amortecem e cessam o
tiroteio; os generais descem para o arraial quando de repente novos tiros, o
combate continuava, se esvaziou a praça.
Ação
incompreensível para a milícia, numa psicologia de guerra inversa eles
ressurgem, extraindo forças da fraqueza, da fome a robustez, da derrota o
grandeza da vitória ainda que invisível. Uma raça que se assemelhava a uma
rocha viva.
Num recurso
bárbaro e desesperado, bombas de querosene e dinamite eram lançadas sobre o
arraial em meio a um combate cruel e estéril.
Antônio o
“beatinho”, auxiliar de Conselheiro, por não aguentar mais e também por não ter
mais “opinião”, decide se entregar junto com outro companheiro chamado Bernabé
José; este companheiro era jagunço vem nutrido, pele clara, olhos azuis e
cabelo loiro, de uma linhagem superior. Ambos retornam ao vilarejo sob ordem do
comandante na expectativa de convencer a resistência a se entregarem
pacificamente e sem nenhuma solicitação.
Os mesmos
conseguem aparente êxito em sua missão, onde ao regressarem para o território
do inimigo seguia-os como uma procissão, de forma solene, a frente o Beatinho
seguido por uma pequena multidão de mulheres, velhos e crianças, a maioria
ferida, doente, mutilada, extremamente magros, o que assemelhava a caminhada
como uma marcha fúnebre inserida de zumbis.
O triunfo
repugnante envolto na vergonha diante de tamanha realidade cruel. O que sobrara
da mestiça população de Canudos estava sendo devorada pela fome e pela sede de
muitos dias. Em data de 05/10/1897 sabia-se que os poucos jagunços que restaram
em Canudos não poderiam resistir por muitas horas.
Mas Canudos não
se rendeu, resistindo ate o esgotamento completo.
O fim se
aproximava, ao entardecer daquele dia, caem os últimos defensores de Canudos,
eram apenas quatro pessoas, a saber: um velho, dois homens feitos e uma
criança; “na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados”.
No dia seguinte,
o arraial é totalmente destruído, encontrando antes quase que irreconhecível, o
cadáver de Antônio Conselheiro.
Intertextualização
Imagens, representações, estereotipias sobre
o Sertão, o Sertanejo, com suas etnias, culturas, psicologias têm sido gestadas
e amplamente disseminadas por todos os discursos em linguagem verbal e
não-verbal, com propósitos ideológicos de construção dessa região como o Outro,
aí contemplados os diversos e ambíguos sentidos de positividade e de
negatividade. De região berço da nacionalidade brasilidade, de centro
econômico, social, cultural e religioso no período colonial, de região
representada ora como inferno ora como paraíso, torna-se, não raro, o Sertão,
como o lugar da mestiçagem, da pobreza e da ignorância endêmicas, da seca, da
migração, dos surtos messiânicos, do coronelismo e do jaguncismo e das formas
de violência características de terras sem lei. Identificar, analisar e
questionar os processos ideológico-discursivos de construção, desconstrução e
ressignificação dessas imagens no percurso de formação desse discurso sobre o
Sertão, suas gentes e culturas constituem-se objetivos dessa comunicação.
O sertão é o homizio. Quem lhe rompe as trilhas, ao divisar a beira da
estrada a cruz sobre a cova do assassinado, não indaga do crime. Tira o chapéu,
e passa. Euclides da Cunha, Os Sertões.
A
jagunçagem é apenas uma instituição extrema, que lhe permite falar,
alegoricamente, do sistema político como um todo. ... O Brasil é retratado sob
o signo da violência e do crime.
Willi
Bolle, Grandesertão.br
Presentificação
Canudos: Uma comunidade que desafiou
a ordem vigente.
No período da Guerra de Canudos (Novembro de 1896 a
outubro de 1897) o Brasil vivia o Segundo Período de Poder Republicano, no
Governo de Prudente de Moraes (15.11.1894 a 15.11.1898). O Governador da Bahia
durante o período da Guerra de Canudos foi Luíz Viana (28/05/1896 a
29/05/1900). Sua eleição encerra o período dos governos provisórios dos
marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto e marca o início do predomínio
da oligarquia cafeicultora no poder. Prudente de Morais, porém, assumiu o
governo federal num momento em que o país atravessava uma grave crise
econômica, Prudente de Morais venceu a Guerra de Canudos, essas vitórias
fortaleceram seu o governo e seu mandato.
Desde o início, autoridades eclesiásticas e setores
dominantes da população viam na renovação social e religiosa de Antônio
Conselheiro uma ameaça à ordem estabelecida. Em 1876, autoridades lhe prenderam
alegando que ele havia matado a mulher e a mãe, e o enviaram de volta para o
Ceará. Depois de solto, Conselheiro se dirigiu ao interior da Bahia. Com o
aumento do seu número de seguidores e a pregação de seus ideais contrários à
ordem vigente, Conselheiro fundou – em 1893 – uma comunidade chamada Belo
Monte, às margens do Rio Vaza-Barris.
E o sertão virou mar... De sangue
Na tomada de Canudos, o Exército
matou pelo menos 25 mil rebeldes.
Consolidando uma comunidade não
sujeita ao mando dos representantes do poder vigente, Canudos, nome dado à
comunidade por seus opositores, se tornou uma ameaça ao interesse dos
poderosos. As relações do povoado com o governo começaram a se complicar ainda
em 1893, quando os moradores rebelaram-se contra a cobrança de impostos e
queimaram documentos emitidos pelo governo. Aos olhos dos governantes, Canudos
começou a ser visto não só como um arraial de fanáticos religiosos, mas também
como um ninho de rebeldes monarquistas e perigosos, que precisavam ser
eliminados. De um lado, a Igreja atacava a comunidade alegando que os
seguidores de Conselheiro eram apegados à heresia e à depravação. Por outro, os
políticos e senhores de terra, com o uso dos meios de comunicação da época,
diziam que Antônio Conselheiro era monarquista e liderava um movimento que
almejava derrubar o governo republicano, instalado em 1889.
Incriminada por setores influentes
e poderosos da sociedade da época, Canudos foi alvo das tropas republicanas. Ao
contrário das expectativas do governo, a comunidade conseguiu resistir a quatro
investidas militares. Somente na última expedição, que contava com
metralhadoras e canhões, a população apta para o combate (homens e rapazes) foi
massacrada. A comunidade se reduziu a algumas centenas de mulheres, idosos e
crianças.
Rio São Francisco
Maior obra de infraestrutura do Brasil: a
Transposição do Rio São Francisco. O projeto já se arrasta há cinco anos e
deveria levar água para a região que enfrenta a pior seca dos últimos 70 anos.
A apenas 20 quilômetros das margens do Rio São
Francisco, a seca espalha suas vítimas na beira da estrada. O gado morto se
incorporou à paisagem. Na cidade de Cabrobó – Pernambuco, a água acabou e o
caminhão-pipa custa R$ 150,00. A apenas dois quilômetros dali, um canal seco é
a lembrança da obra que deveria estar ajudando a enfrentar a seca que castiga o
sertão. A transposição do Rio São Francisco - o Velho Chico, que corta o sertão
de Minas a Alagoas. Dois canais, com mais de 500 quilômetros, para levar a água
para cinco estados, passando pelas regiões mais secas do Brasil. A transposição
do São Francisco sempre foi polêmica. Os grupos que se organizaram contra
argumentam que ela põe em perigo o Rio São Francisco, não resolve o problema da
seca e só está sendo feita para irrigar as terras dos ricos. Com a obra pronta,
saberemos quem tem razão. Só que ela deveria ter sido concluída no final de
2012. E ainda há trechos em que as obras estão abandonadas. O sertanejo ainda
vai ter que esperar três anos para ver a água correndo por esses canais. Além
disso, nesse período o custo disparou. Começou em: R$ 4,7 Bilhões. E chega a:
R$ 8,2 Bilhões. Um aumento de 80%. A obra para permitir a captação da água
ainda nem começou, nem uma gota d’água passa pelos canais. O canteiro de obras
mais ativo fica em Salgueiro, Pernambuco. No local está sendo construído um
grande reservatório de onde a água vai ser bombeada para o ponto mais alto da
transposição. Em cima, a água vai passar 180 metros acima do leito do São
Francisco. Dali em diante, só com a força da gravidade vai percorrer mais de
100 quilômetros.
Fernando Bezerra de Sousa Coelho.
Ministro da Integração Nacional do Brasil Mandato: 1º de janeiro de 2011 até
atualidade.Compõe a equipe ministerial da presidenta Dilma Rousseff como
Ministro da Integração Nacional
Entrevista: - Por que essa obra
ficou tão mais cara, quase dobrou de preço, e atrasou tanto? “O projeto básico foi concluído em 2001
(Governo FHC). Esse projeto básico serviu de base para licitações. E os
projetos executivos foram desenvolvidos ao longo da obra. Ocorreu uma grande
discrepância entre o projeto básico e o projeto executivo da realidade
encontrada em campo. Nos relatórios até
aqui existe sim, há indícios de sobrepreço, de superfaturamento”.
O projeto básico foi concluído
ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, quando as obras começaram em 2007
não foi atualizado ou revisado. Em alguns trechos é o próprio canal da
transposição que está rachado. Desde 2005 o Tribunal de Contas da União
encontrou irregularidades que chegam a R$ 734 milhões. O Ministério da
Integração investigou contratos que não foram honrados ou que tem sobre preço,
pagamento duplicado por obras ou pagamento de serviços que não foram
executados. Alguns trechos abandonados já foram retomados depois que o
ministério refez os projetos e licitou novamente as obras. Entrevista com o
Pecuarista Francisco Tadeu em Serrista – Pernambuco Francisco Tadeu é a classe
média agrária do sertão que está sendo jogada na pobreza por causa da seca. “O
primeiro gado começou a morrer da seca no Natal de 2011”, diz ele. Treze meses
depois, já se foram 60. O Conselho Nacional de Pecuária de Corte estima que o
Nordeste perdeu 12 milhões de cabeças de gado por causa da seca. Metade morreu
e a outra metade foi abatida antes da hora ou mandada para outras regiões. Francisco
Tadeu: “Essas vaca aqui eram das melhores
vacas de leite que eu já possui. Isso dá uma tristeza tão grande! Essa vaca
aqui mesmo quando ela tava morrendo, eu olhei para ela e dos olhos dela corria
água. Para ela, é como se ela tivesse se despedindo”, se emociona Tadeu. Enquanto
pôde, ele comprou ração. Mas a seca fez o preço se multiplicar por quatro.O
senhor tem capital depois para repor o rebanho? “Tem não. Eu nem penso isso. Se for pensar isso aí, fico doido”. A
transposição do São Francisco, o senhor acha que se estivesse pronta ajudaria
aqui? “Se for como eles dizem, o pessoal
diz, acredito que ajudava. Acredito que melhor do que está fica. Muito, porque
água é riqueza”.A três anos de ver a água correndo, a família se agarra na
fé. “Vamos esperar pela vontade de Deus,
né? Se for para acabar até a última, acaba. Vamos ver se pelo menos a gente
sobra para contar a história”.
Fonte: g1.globo.com
(04/2013)
Mais de 11 milhões vivem em favelas no Brasil
A região Nordeste é a segunda
com maior número de moradores em comunidades carentes: são 3.198.061 de pessoas
ou 28,7% do total nacional; a maioria, nos Estados da Bahia (970.940) e
Pernambuco (875.378). O Norte vem na sequência, com 14,4% ou 1.849.604 de
pessoas --a grande maioria, 1.267.159 (10,1%), no Pará. Fonte: IGBE (2011)
Seca? Aonde? O Brasil é o país da copa do mundo!
O
Brasil Hoje vive em meio à miséria, à fome e ao desprezo das pessoas. O
País em que só visa o Luxo e não olham as pessoas carentes, pessoas que
realmente precisam do dinheiro em que é gasto nos Estádios de
Futebol, em Obras do Governo Federal para a Copa do Mundo.
O
Brasil é um País em que poderia ser umas das maiores potencias do Mundo, se não
houvesse tanta corrupção, tanto político que entra no governo apenas para
beneficiar a si próprio, corruptos que prometem e não cumprem o que dizem. E
por causa deles é que muitas famílias e pessoas sofrem com a fome, sofrem em
meio a miséria, a falta de Educação, de saúde, pessoas que não tem nada para
comer no dia-a-dia, pessoas que não tem como sustentar suas famílias. Muita
gente trabalhando em lixões para tentar dar algo e trazer algo para
sua casa.
Só
para se ter uma ideia de quanto será gasto (ou pelo menos o que está previsto)
com a realização da Copa no Brasil: R$ 8,5 bilhões serão gastos pelo Governo
Federal em infraestrutura das cidades-sede como melhoria de aeroportos e
transporte público. 2 bilhões de reais serão gastos com reforma e construção de
estádios.
Agora imaginemos onde esta dinheirama poderia ser investida em
favor da população e não do futebol: R$ 2,1 bilhões poderiam ser investidos em
expansão do saneamento das cidades levando água tratada a 2,2 milhões de casas
e coleta de lixo a 2,1 milhões, cerca de 20% do déficit de saneamento. R$ 2,8
bilhões dariam para financiar a construção ou compra de 480 mil casas
populares, apenas 6% do déficit habitacional.
Ainda com R$ 2,8 bilhões daria para
levar luz a 1,6 milhão de pessoas no campo. Pode parecer mentira, mas 13% da
população brasileira não tem acesso à energia.
Com R$ 1,4 bilhão poderia diminuir
em 4% o número de analfabetos no país, ajudando a 600 mil jovens e adultos a
ler e escrever. Os mesmos R$ 1,4 bilhões poderiam também custear o Bolsa
Família por um ano para 1,8 milhão de famílias, que receberiam um auxílio
mensal de R$ 62. Por fim R$ 700 milhões dariam para levar o programa Saúde da
Família a mais 2 milhões de pessoas, população superior a de cidades como
Curitiba ou Recife.
Quer dizer, trazer a Copa 2014 vai
ser uma boa para o torcedor que terá a oportunidade de ver a nata do futebol
mundial de perto, aliás nem todos, porque os ingressos deverão custar uma
fortuna. Mas mesmo assim ter o prazer de torcer pela seleção em casa será uma
sensação incrível. Apesar disso seria melhor ver todo este dinheiro revertido
para um bem maior: a população brasileira que há muito sofre com a desigualdade
social. Assim não faltaria comida no prato de tanta gente.
Fontes: Orçamento Copa 2014, CBF, Fifa. Orçamento alternativo:
números recentes dos ministérios do governo federal, IBGE, site Contas Abertas,
Agência Brasil, FGV.Canudos
1968:
Açude Cocorobó foi construído em
1968, é fonte de suprimento do Perímetro Irrigado Vaza-Barris e de
abastecimento d’água para a Sede do Município de Canudos, para povoados e
aglomerados humanos, localizados rio abaixo nos municípios de Canudos e
Jeremoabo, como também áreas de irrigação privadas em um trecho de
aproximadamente 90 Km, sendo que estes municípios estão entre os mais
castigados pelas estiagens no semi-árido baiano.
Cidade de Canudos volta a aparecer após 17 anos:
Seca fez o Açude do Cocorobó, construído em 1968, baixar o seu nível em
nada menos que 11 metros, fazendo aparecer ruínas de Canudos.
Seca revela ruínas históricas em
Canudos
Foi ela que fez o Açude do
Cocorobó, construído em 1968, baixar o seu nível em nada menos que 11 metros.
Dos 245 milhões de metros cúbicos d’água (245 bilhões de litros), restam apenas
20%. A perda fez aparecer ruínas de duas Canudos: a Canudos conselheirista, que
viveu as batalhas, e a Canudos pós-conselheirista, inundadas pelo açude.
Fonte: Correio da Bahia (05/2013)
Vários movimentos buscavam
construir espaço social possível em meio a uma sociedade que negava princípios
básicos capazes de garantir uma vida justa. Marca a existência de dois Brasis
distintos, um do litoral desenvolvido e civilizado e outro de um interior
primitivo, separados por interesses políticos da época, acarretando em uma
guerra sangrenta na busca de voz por parte dos sertanejos e insatisfação por
parte do governo. O “ontem” envolve todo o processo histórico de exclusão dos
sertanejos, desde a sobrevivência no sertão com a seca até a guerra de Canudos,
em busca de voz contra as ações do modelo autoritário do poder. E o “hoje”,
busca uma comparação com os dias atuais, mesmo vivendo num país democrático,
existem temas que sempre estarão na atualidade como a exclusão social, a
miséria, a fome, a violência.
Durante todo o trabalho procurou-se
mostrar que os acontecimentos do passado formam todo um contexto histórico que
vai se arrastando por décadas, séculos, até os dias atuais, tornando-se
problemáticas para que as pessoas compreendam, analisem, reflitam e critiquem a
realidade e para que algo se modifique. É certo que haverá mudanças se não
ficarmos parados. Não podemos deixar que os interesses políticos tomem conta da
nação, temos que lutar pelo que acreditamos ser justo, digno de melhoras e de
transformação. Assim fizeram os sertanejos que enfrentaram bravamente o poder
da época, mostrando para o Brasil que eles existiam e que podiam buscar o seu
espaço dentro da sociedade, pois o interior faz parte do Brasil e esse povo tem
suas características, a sua cultura e precisam ser respeitados.
Deparando-nos com a história de
Canudos, podemos identificar semelhanças com os dias atuais. Acompanhando o
contexto histórico atual, pode-se perceber que ainda há a exclusão social
presente, a violência e uma vida sofrida por uma grande maioria de classe
social baixa, principalmente nas regiões do Norte e do Nordeste. Com um país
democrático que defende a cidadania, como a exclusão, a violência e a miséria
continuam formando o nosso quadro político e social? Mesmo camuflados, os
interesses políticos continuam detendo o poder nas mãos de poucos e quem sofre
é a população brasileira, aquela que paga impostos, que têm direitos e deveres
a serem cumpridos, mas que não perde a esperança de que um dia as coisas vão
melhorar.
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