O quinze
Rachel de Queiroz
Sumario
1. Biografia
2. Contexto Histórico.
3. O Quinze.
4. Sinopse.
5. Contextualização.
6. Atualização da obra.
7. Conclusão.
Biografia
Rachel de Queiroz: Professora,
jornalista, romancista, cronista e teatróloga . Brasileira nascida em Fortaleza
no Ceará, primeira mulher a ingressar na academia Brasileira de Letras (1977)
eleita para cadeira n° 5, na sucessão de Candido Mota filho, foi uma das mais
importantes romancistas do movimento regionalista contemporâneo do Nordeste.
Filha de proprietários rurais do Ceará, Daniel de Queiroz e de Clotilde
Franklin de Queiroz, descendendo, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar
(sua bisavó materna — “dona Miliquinha” — era prima José de Alencar, autor de
(“O Guarani”) e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes
profundamente lançadas em Quixadá, onde residiam e seu pai era Juiz de Direito
nessa época). Foi para o R.J (1915) em companhia dos pais que procuravam, nessa
migração, fugir dos horrores da terrível seca. Que mais tarde a romancista iria
aproveitar como o tema de “O Quinze”, seu livro de estréia (1930). No Rio, a
família Queiroz pouco se demorou viajando logo a seguir para Belém do Pará,
onde residiu por dois anos. Regressando a Fortaleza, matriculou-se no colégio
da Imaculada Conceição, onde fez o curso normal, diplomando-se aos 15 anos.
Estreou no jornalismo (1927) com pseudônimo de Rita Queluz , publicando
trabalhos no jornal O Ceará, de que se tornou afinal redatora efetiva. Ali
publicou seus primeiros poemas à maneira modernista e iniciou sua carreira
literária com o romance O Quinze, tratando sobre o drama dos flagelados da
seca, na extrema pobreza e sem ter quem os orientasse sobre o cultivo da terra,
romance que lhe trouxe consagração, com o prêmio da fundação Graça Aranha
(1931). Seguiram-se vários outros sucessos até fixar residência no R.J. Vindo a
falecer em 4 de novembro de (2003). Aos 92 anos.
Contexto Histórico
A Religião
A religião observada no livro O
Quinze, de Rachel de Queiroz tem fortes indícios de se tratar de uma fé
católica, neste romance esta fé está presente no dia-a-dia. Como expressa dona
Inácia no trecho a seguir: “Depois de se benzer e de beijar duas vezes a
medalhinha de São José, dona Inácia concluiu: Digne-vos ouvir nossas súplicas,
o castíssimo espose da Virgem Maria, e alcançai o que rogamos amém”. (Queiroz.
2004. p. 11). Dona Inácia foi à personagem que mais demonstrou sua fé, durante
toda a obra, em outro trecho após ter caído à primeira chuva de dezembro. Dona
Inácia agarrada ao rosário de mãos postas suplicava a todos os santos que
aquilo fosse um bom começo. (Queiroz, 2004. P. 139). Outra personagem que
também pediu em suas orações foi Maria Preta no trecho a seguir: “ Maria, a
preta velha da cozinha, irrompeu pelo corredor, acocorou-se a um canto e
engulhando lágrimas e mastigando rezas, resmungava: - O inverno! Senhor São
José, o inverno! |Benza-o Deus!” (Queiroz, 2004, p. 139).
Fator Econômico
Devido à seca, muitos nordestinos
não tinham mais trabalho e Rachel de Queiroz ilustrou este fato no momento em
que narrou à trajetória de vida do personagem Chico Bento e sua família, este
foi um problema real e na época. E o então Presidente da República Venceslau
Brás Pereira Gomes que esteve nesse cargo entre 1.914 a 1.918 avistou a
necessidade de reestruturar a IFOCS (Inspetoria Federal de Obras contra as
Secas), criada a alguns anos antes, em 1.909. Algumas medidas foram
implantadas, pouco solucionadoras, tais como: a construção de açudes e
barragens que reunia a população nas chamada “frente de trabalho” buscando
evitar a migração e o êxodo rural.Em um trecho do livro O Quinze, é citado uma
desta frente de trabalho, “Armado com um cartãozinho do bispo em um bilhete
particular de Conceição à senhora que administrava o serviço, Chico Bento
conseguiu obter o ambicionado lugar no açude do Tatuapé. No bilhete, a moça
fazia o possível para comover a destinatária; e a senhora, apesar de já se ter
habituado a esses pedidos que falavam sempre numa mesma pobreza extrema e em
criancinhas famintas, achou jeito de desentulhar uma pá, e ela mesma guiou o
vaqueiro aturdido, com seu ferro na mão, e o entregou ao seu feitor. Duramente
Chico Bento trabalhou todo o dia no serviço da barragem. Só de longe parava
para tomar um fôlego, sentindo o pobre peito cansado e os músculos vadios.”
(Queiroz, 2004, p.106). Mas de nada rendeu progresso na estrutura
socioeconômica desta região, depois da IFOCS, o governo criou o DNOCS (
Departamento Nacional de Obras contra as Secas), que também pouco significou
para o avanço na solução de problemas enfrentados pelo povo nordestino. Estas
ações raramente beneficiavam diretamente os pequenos produtores restando a
estes migrarem para outras regiões em busca de novas alternativas para
sobrevivência. Sendo assim como: para o personagem Chico Bento e todo o povo
nordestino na vida real uma das saídas para escapar deste cenário desolador da
seca, era o de enfrentar uma dura, penosa e longa viagem para o Norte com
pouquíssimos recursos ou nada ou tentar a sorte em São Paulo em busca de uma
vida melhor.
Aspecto Social
A autora situa romance no Ceará
de 1.915. O fator histórico importante da época era a própria seca, obrigando
os filhos da terra, principalmente do sertão a migrarem para o Amazonas ou para
São Paulo, à procura de uma vida melhor. Não há avanços, nem recuos. O aspecto
social da obra relata as diferenças sociais e culturais presente entre os
primos que se apaixonam Conceição e Vicente este romance poderia ter dado
certo, não fosse tamanha a diferença entre seus mundos, e devido à seca a
família de Conceição decide partir para a cidade, Vicente tem que ficar ele
reluta, mas entende ser o melhor pra se fazer, ficar e tomar conta de tudo.
Também é relatado na segunda narrativa, considerada a mais importante do
romance, pois trata com fidelidade as mazelas da vida daqueles que enfrentam
estes problemas, se desenrola baseada na vida do vaqueiro Chico Bento, sua
mulher e seus cinco filhos. Ele é obrigado a abandonar seu trabalho, pois não
tinha mais o que fazer a dona da fazenda iria soltar todo o gado, pois não
havia como sustentar todos aqueles animais com aquela seca tão devastadora, e
com o pouco de dinheiro que consegue guardar, compra mantimentos e uma burra
para tentar atravessar o sertão em direção ao Norte; pois lá sempre haverá
“borracha” para trabalhar. No percurso, perde três filhos, um devido à fome,
outro foge daquela situação de miséria e o último filho tem que dar a sua
comadre , por este estar muito doente. Passa por grande fome e sofrimento,
chega ao campo de concentração, arruma um trabalho graças a Conceição, desisti
de ir para o Norte e passa a seguir viagem para São Paulo em busca de uma vida
melhor. E com tudo conclui-se que devido à seca houve segregação da sociedade,
total descaso por parte das famílias com mais posses, muita miséria, falta de
recursos básicos de higiene e saúde, índice de mortalidade assustador, pouco
investimento dos órgãos públicos, descaso total com a população mais carente.
O Quinze, Rachel de Queiroz.
Análise da obra Publicado em 1930,
o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, renovou a ficção regionalista. Possui
cenas e episódios característicos da região, com a procissão de pedir chuva,
são traços descritivos da condição do retirante. O sentido reivindicatório,
entretanto não traz soluções prontas, preferindo apontar os males da região
através de observação narrativa. Em O Quinze, primeiro e mais popular romance
de Rachel de Queiroz, a autora exprime intensa preocupação social, apoiada,
contudo, na análise psicológica das personagens, especialmente o homem
nordestino, sob pressão de forças atávicas que o impelem à aceitação fatalista
do destino. Há uma tomada de posição temática da seca, do coronelismo e dos
impulsos passionais, em que o psicológico se harmoniza com o social. A obra
apresenta a seca do nordeste e a fome como conseqüência, não trazendo ou
tentando dar uma lição, mas como imagem da vida. Não percebe-se uma total
separação entre ricos e pobres, e esta fusão é feita através da personagem
Conceição que pertence realmente aos dois mundos. Evitando assim o perigo dos
romances sociais na divisão entre "bons pobres" e "maus
ricos", não condicionando inocentes ou culpados. Estrutura da obra O
título do livro evoca a terrível seca do Ceará de 1915. A própria família de
Rachel foi obrigada a fugir do Ceará: foi para o Rio de Janeiro, depois para
Belém do Pará. Compõe-se de 26 capítulos, sem títulos, enumerados. A
classificação de O Quinze é, sem dúvida, de romance regionalista de temática
social. Mas com uma visão que foge ao clichê tradicional. Não há, na história,
a divisão batida de \"pessoas boas e pobres\" e de \"pessoas más
e ricas\". A autora registrou no papel a sua emoção, sem condicionar o
romance a uma tese ou à preocupação de procurar inocentes e culpado pela
desgraça de cada um ou mesmo do grupo envolvido na história. A história é
recheada de amarguras. Bastaria a saga da família de Chico Bento para marcar o
romance com as cores negras da desgraça. A morte está por toda parte. Está no
calvário da família de retirantes, está em cada parada da caminhada fatigante,
está no Campo de Concentração. Morte de gente e de bichos. A história de amor
entre Vicente e Conceição poderia ser o lado bom e humano da história. Não é. A
falta de comunicação entre os dois, o desnível cultural que os separa
constituem ingredientes amargos para um desfecho infeliz. É como se a seca,
responsável por tantos infortúnios, fosse causadora de mais um: a
impossibilidade de ser feliz para quem tem consciência da miséria. Romance de
profundidade psicológica. A análise exterior dos personagens existe, mas sem
relevo especial dentro do livro. A autora vai soltando uma característica aqui,
outra além, sem interromper a narrativa para minúcias. O lado introspectivo,
psicológico é uma constante em toda a narrativa. Ao mesmo tempo em que o
narrador informa as ações dos personagens, introduz interrogações e dúvidas que
teriam passado por sua cabeça, por seu espírito. Tempo A autora situa a
história do romance no Ceará de 1915. O fato histórico importante da época era
a própria seca, obrigando os filhos da terra, principalmente do sertão, a
migrarem para o Amazonas ou para São Paulo, à procura de vida melhor. Não há
avanços nem recuos. A história é contada em linha reta, valorizando o presente,
o cotidiano das pessoas. O passado é evocado raramente, muito mais por
Conceição. A passagem do tempo dentro do romance é marcada de maneira
tradicional, obedecendo à seqüência de início, meio e fim. Cenário O cenário do
romance é o Ceará. Especificamente, a região de Quixadá, onde se situam as
fazendas de Dona Inácia (avó de Conceição), do Capitão (pai de Vicente) e de
Dona Maroca (patroa de Chico Bento). Há também, em menor escala, o cenário
urbano, destacando a capital, Fortaleza, para onde migram os retirantes e onde
mora Conceição. Linguagem O sucesso do livro está atrelado à simplicidade da
linguagem (a mais difícil das virtudes literárias!). Não há exibicionismo da
autora no uso de palavreado erudito. Mesmo quando a dona da palavra é uma
professora (Conceição), o diálogo flui espontâneo, normal, cotidiano. Sua
linguagem é natural, direta, coloquial, simples, sóbria, condicionada ao
assunto e á região, própria da linguagem moderna brasileira. A estas
características deve-se ao não envelhecimento da obra, pois sua matéria está
isenta do peso da idade. Em O Quinze, Rachel usa o que lhe deu fama imediata:
uma linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão literária e sem vínculo
obrigatório a um falar específico (modismo comum na tendência regionalista). A
sobriedade da construção, a nitidez das formas, a emoção sem grandiloqüência, a
economia de adjetivos são recursos perceptíveis em todo o livro. Foco narrativo
O Quinze é romance narrado na terceira pessoa, ou seja, o narrador é a própria
autora. O narrador é onisciente. Estando fora da história, o narrador vai
penetrando na intimidade dos personagens como se fosse Deus. Sabe tudo sobre
eles, por dentro e por fora. Conhece-lhes os desejos e adivinha-lhes o
pensamento. Discurso livre indireto. Em vez de apresentar o personagem em sua
fala própria, marcada pelas aspas e pelos travessões (discurso direto), o
narrador funde-se ao personagem, dando a impressão de que os dois falam juntos.
Isto faz com que o narrador penetre na vida do personagem, no seu íntimo,
adivinhando-lhe os anseios e dúvidas. Personagens Conceição - Não com os
alunos, mas com a própria vida. Conceição é forte de espírito, culta, humana e
com idéias um tanto avançadas sobre a condição feminina. O único homem que lhe
despertou desejos é o primo Vicente. Conceição tem uma admiração antiga e
especial pelo rapaz, talvez porque ele é real, sem as falsidades comuns dos
moços bem-educados. Ao descobrir que ele não é tão puro, a admiração esfria,
criando uma barreira intransponível para a realização plena do seu amor. Tinha
vocação para solteirona:”Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em
casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido embora com os dezoito
anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera solteirona".
Conceição sente-se realizada ao criar Duquinha, o afilhado que lhe doaram Chico
Bento e Cordulina. É uma realização íntima, preenchendo o vazio da decepção
amorosa. Vicente - Filho de fazendeiro rico, com condições de mandar os filhos
para a escola, Vicente, desde menino, quis ser vaqueiro. No início, isso
causava tristeza e desgosto à família, principalmente à mãe, Dona Idalina. Com
o tempo, todos passaram a admirar o rapaz. Vicente é o vaqueiro não-tradicional
da região. Cuida do gado com um desvelo incomum, mas cuida do que é seu, ao
contrário dos outros (Chico Bento é o exemplo) que cuidam de gado alheio. Tem
boas condições financeiras, mas é humano em relação à família e aos empregados.
Vicente tinha dentes brancos com um ponto de ouro. Na intimidade, quando se põe
a pensar na vida e na felicidade, associa tais coisas à Conceição. Tem uma
admiração superior por ela. Gradualmente, à medida que vai notando a maneira
fria com que ela passa a tratá-lo, Vicente começa a descrer no amor e na
possibilidade de casar e ser feliz. Chico Bento - Chico Bento é o protótipo do
vaqueiro pobre, cuidando do rebanho dos outros. Ele é o vaqueiro de Dona
Maroca, da fazenda das Aroeiras, na região de Quixadá. Ele e Vicente são
compadres e vizinhos. Como é peculiar da pobreza brasileira e nordestina, Chico
Bento tem a mulher (Cordulina) e cinco filhos, todos ainda pequenos. Pedro, o
mais velho, tem doze anos. Expulso pela seca e pela dona da fazenda, Chico
Bento e família empreendem uma caminhada desastrosa em direção a Fortaleza.
Perde dois filhos no caminho: um morre envenenado (Josias), o outro desaparece
(Pedro). Antes de embarcar para São Paulo, é obrigado a dar o mais novo
(Duquinha) para a madrinha, Conceição. De Fortaleza, Chico Bento e parte da
família vão, de navio, para São Paulo. É o exílio forçado, é a esperança de
vida melhor e, quem sabe, de riqueza para quem só conheceu miséria no Ceará.
Cordulina - É a esposa de Chico Bento. Personifica as mulheres submissas,
analfabetas, sofredoras, com o destino atrelado ao destino do marido. É o exemplo
da miséria como conseqüência da falta de instrução. Josias - Filho de Chico
Bento e Cordulina, tem cerca de dez anos de idade. Comeu mandioca crua e morreu
envenenado na estrada. Pedro - Filho de Chico Bento e Cordulina, é o mais
velho, tem doze anos de idade. Desapareceu quando o grupo ia chegando a
Acarape. Manuel (Duquinha) - É o filho caçula de Chico Bento e Cordulina; tem
dois anos anos de idade. Foi doada à madrinha, Conceição. Paulo - Irmão mais
velho de Vicente, ele é o orgulho dos pais (pelo menos no início). Estudou,
fez-se doutor (promotor) e casou-se na cidade com uma moça branca. Depois de
casado, passou a dedicar o seu tempo à família, quase não se interessando mais
pelos pais e pelos irmãos. Só então os pais deram valor a Vicente. Mocinha -
Irmã de Cordulina, ficou como empregada doméstica em Castro, na casa de sinhá
Eugênia. Arranjou um filho sem pai e tudo indica que vai viver da prostituição.
Lourdinha - Irmã mais velha de Vicente. Casou-se com Clóvis Garcia em Quixadá.
No final, têm uma filha, símbolo da felicidade que as pessoas simples e
descomplicadas conseguem conquistar. Alice - Irmã mais nova de Vicente. Mora na
fazenda com os pais e os irmãos. Dona Inácia - Avó de Conceição, espécie de
mãe, pois foi quem a criou depois que a mãe verdadeira morreu. É dona da
fazenda Logradouro, na região de Quixadá. Não aprova as idéias liberais da
neta, principalmente no que diz respeito a ficar solteirona. Dona Idalina -
Prima de Dona Inácia. Idalina é a mãe de Vicente, Paulo, Alice e Lourdinha.
Vive com o marido, Major, na fazenda perto de Quixadá. Major - Fazendeiro rico
na região de Quixadá. Entrega a administração da fazenda ao filho Vicente.
Orgulha-se de ter um filho doutor: o Paulo, promotor em uma cidade do interior
do Ceará. Dona Maroca - Fazendeira, dona da fazenda Aroeiras na região de
Quixadá. Na época da seca, mandou o vaqueiro, Chico Bento, soltar o gado e
procurar, por conta própria, meios para sobreviver. Mariinha Garcia - Moça
bonita, de família rica, moradora de Quixadá. Com auxílio de Lourdinha e Alice,
faz tudo para conquistar Vicente, mas as tentativas resultam inúteis. Luís
Bezerra - Compadre de Chico Bento e Cordulina. Trabalhara também nas Aroeiras
sob o comando de Dona Maroca. Agora, é delegado em Acarape, povoado do interior
do Ceará. Foi ele quem conseguiu passagens de trem para que a família do
compadre chegasse a Fortaleza. Doninha - Esposa de Luís Bezerra, madrinha do
Josias, o filho de Chico Bento que morreu envenenado na estrada. Zefinha -
Filha do vaqueiro Zé Bernardo. Conceição, acreditando numa conversa que tivera
com Chiquinha Boa, acha que Vicente tem um caso com Zefinha. Chiquinha Boa -
Trabalhava na fazenda de Vicente. Na época da seca, achando que o governo do
Ceará estava ajudando os pobres que migravam para a capital, deixou a zona
rural.
Sinopse
A seca de 1915
O quinze é a descrição da vida de
retirantes cearenses que sofrem com o pior fenômeno climático por eles já
vivenciado. A visão central da obra é feita em cima de Chico Bento, morador de
Quixadá. Chico Bento era contratado de Dona Maroca para cuidar do gado, mas a
seca atacava sem piedade o sertão e o mesmo foi ordenado a soltar o gado e
deixá-lo morrer se até o dia de São Pedro não chovesse. A chuva não chegou, mas
com insistência e fé o caboclo decidiu esperar mais uma semana, tempo perdido.
Nada de chuva e a única saída foi arrumar as trouxas e ir-se embora para a
cidade em busca de alguns mireis. Pelo fato de não ter conseguido passagens de
trem, Chico Bento e a família fazem a viagem a pé. Na estrada Mocinha, cunhada
de Chico Bento, deixa a família para trabalhar em uma venda. Pouco mais a
frente, Josias, um dos filhos do caboclo, morre por ter comido uma macaxeira
crua ainda na terra. Chegando em Acarape, Pedro, outro filho, foge da família e
mesmo assim Chico Bento persistira até o fim. Chegando ao destino, toda a
família estava em extrema miséria, foram parcialmente salvos pela comadre
Conceição que deu de comer a todos por alguns dias e arrumou um
"emprego" para seu compadre. Conceição se apegara de forma
impressionante a Duquinha, filho caçula de Chico Bento, que decidirá criar a
criança. Vendo a situação difícil Chico Bento e Cordulina sua esposa vão a São
Paulo com os três filhos que lhe restam dois seis que tinham. Josias morrera,
Pedro fugira e Duquinha tinha sido adotado por Conceição sua madrinha. Depois
da viagem nada mais é relatado sobre a família. Conceição sempre fora muito
apaixonada por Vicente um vaqueiro que conhecia desde criança. Os dois vivem
uma história morna, sem um corresponder ao outro. Conceição termina como varias
mulheres, solteira, dedicando seu tempo a Duquinha filho adotivo. E Vicente?
Somente cuidando das reses, pelas quais tinha muita paixão. Rachel de Queiroz
aborda de maneira nobre a situação de nordestinos frente a essa desgaça
ambiental que fora a seca de 15. Mostrando tanto a situação do Fenômeno
climático, como o descaso das autoridades frente a população mais carente.
Micro enredo
A obra O Quinze aborda a seca de
1915, descreve alguns aspectos da vida do interior do Ceará durante um dos
períodos mais dramáticos que o povo atravessou. O enredo é interessante,
dramático, mostrando a realidade do Nordeste Brasileiro e se dá em dois planos.
No primeiro plano enfoca o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação
afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima
culta e professora. Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler
vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha
a sua avó, Mãe Nácia que é representante das velhas tradições. No período de
férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do
Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se
"engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava
do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o advento da seca, a família de Mãe
Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo.
Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição, trabalhava
agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre
que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha
qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu
até acho os homens de hoje melhores." Vicente se encontra com Conceição e
sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a tratá-lo de modo
indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão. As irmã
de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele porém
se espanta ao "saber" que estava namorando, dizendo que apenas era
solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento.
Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase
impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.
O segundo plano é, sem dúvida, a parte mais importante do livro. Apresenta a
marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos,
representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde
trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para
atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo
borracha. No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo,
come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem
descrito nessa passagem: "Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira
da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz.
Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de
miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma
cruz." Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e
depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da
cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após,
Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar
onde supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre que era o
delegado. Recebem alguns mantimentos mas não é possível encontrar o filho.
Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça. Notem:
"Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior
desgraça do que ficando com o pai?" Ao chegarem no campo de concentração,
são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico
Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de
trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.
Contextualização
Rachel aborda no livro o duelo
entre homem e a terra, exprimindo os anseios e angustias da sua região
brasileira, o que torna o livro interessante devido ao fato de não haver nenhum
derramamento nem sentimentalismo.
Narrador:
Rachel traz no livro aspectos do
Quixadá, Agreste Sertão Cearense onde morou.
Linguagem:
Acadêmica embora, tenha em alguns
trechos a linguagem popular.
Personagens Principais:
Chico Bento: Vaqueiro retirante;
Vicente: Rude proprietário, Criador de gado; Conceição: Prima de Vicente, culta
e professora; Mãe Nácia: Avó de Conceição, representante das velhas tradições.
Tempo:Cronológico; Enredo: Linear, obedecendo a seqüência começo meio e fim.
Cenário da obra se dá no Quixadá onde é retratada a miséria de um povo que
tenta sobreviver a seca. É um ambiente pobre sem recursos agropecuários, o que
ocasiona a falta de alimento. Clímax:A morte de Josias filho do retirante e no
momento em que o mesmo precisou matar uma ovelha para alimentar a família,
sendo que a ovelha não era sua.
Uma obra sempre atual
“A história das secas que
castigam a população do Nordeste desde pelo menos 1877, deixou um rastro de
tragédias e mortes assombroso. Nunca foi feito um levantamento a respeito dos
números de nordestinos que perderam as vidas por causa da fome nestes períodos.
Os levantamentos parciais, no entanto, são assustadores. Somente entre 1877 e
1913, portanto ainda sem os números da seca de 1915, o governo federal, por
intermédio do IOCS estimava que 2 milhões de pessoas haviam morrido em
conseqüência da miséria nas estiagens. Pouco mais de 100 anos depois, a equipe
do livro Genocídio do Nordeste (organizado pela Comissão Pastoral da Terra e o
Ibase, entre outras organizações) repetiu o desafio de contar as vítimas da
seca e chegou ao número de 3,5 milhões de mortos somente no período entre os
anos de 1979 e 1984”. Seca hoje: As secas continuam a ser um drama humano no
sertão nordestino, onde o acesso à água e à alimentação permanece escasso. Os
moradores do semi-árido avaliam, no entanto, que as condições de vida hoje são
bem melhores que as do passado. "Eu acho que umas dez secas já aconteceu
comigo. Esta de hoje não está tão ruim porque tem mais ajuda (do governo) e tem
estas cisternas para armazenar água", conta o agricultor José Raimundo da
Silva, de 64 anos, de Salitre (CE).O sertanejo conta que sua pior seca foi a de
1993. "Fui obrigado a ir para São Paulo porque não tinha como sobreviver
aqui. Eu larguei a família e fui pra São Paulo trabalhar por quatro meses"
Conclusão
O livro relata a triste história
dos flagelados da seca no ano de (1915), na cidade de Quixadá, no estado do
Ceará. Um romance que atravessa todos os tempos. A autora consegue transmitir
com grande sensibilidade toda dor, tristeza e miséria que a fome proporciona. A
dura realidade da seca que obrigou muitas famílias abandonarem suas casas, seus
trabalhos e muitas vezes até seus ente queridos, e se aventurarem em terras
desconhecidas, em busca da sobrevivência. O livro faz um breve comentário sobre
os “campos de concentração”, pesquisamos a respeito e descobrimos que se
tratava de enormes currais erguidos, que foram construídos a mando do governo
federal e estadual da época . Com o propósito de isolar os famintos da seca de
1915. Isolar “eles” do restante da população para poder ter domínio e controle
sobre os flagelados. Os mesmo ficavam praticamente presos nesses currais, em
volta ficavam os guardas vigiando o tempo todo. A seca de 1915 foi considerada
uma das mais trágica de todos os tempos. O objetivo dos campos era evitar que
os retirantes alcançassem Fortaleza, trazendo o “caos, a miséria, a moléstia e
a sujeira”. A segregação dos flagelados era lei, mas chegou um momento em que o
flagelo em massa era tão chocante, com uma média de 150 mortes diárias, que o
governo do Estado ordenou, em 18 de dezembro 1915, como contam os arquivos dos
jornais da época, a dispersão dos flagelados, ou “molambudos”, como eram também
conhecidos. Em 1915 os mortos no “campo de concentração” chegaram a 150 por
dia. Nesse ano ao todo teriam morrido pelo menos 100 mil nordestinos. Outros
250 mil migraram para escapar da fome. O medo das autoridades diante dos
flagelados da seca teve um antecedente. Em 1.877, uma leva cerca de 110 mil
famintos saiu do sertões e tomou as ruas de Fortaleza, assombrando os
moradores. No livro A Fome , o mais consistente relato sobre o cenário de 1.877
nas ruas da capital, o cientista social e escritos Rodolfo Teófilo, assim descreve
o que viu: “ A fome e a peste matam mais de 400 por dia. O que te afirmo é que
, o tempo em que estive parado na esquina vi passar mais de 20 cadáveres: e
como seguem para vala . Um horror! Os que têm rede vão nelas os que não tem são
amarrados de pés e mão atadas em um comprido pau e assim são levados para
sepultura. E as crianças que morrem, como são conduzidas! Pela manhã os
encarregados em sepultá-las vão recolhendo-as em um grande saco; e , ensacados
os cadáveres, são atados ao mesmo pau e conduzidos a sepultura. Indignação
total! E ainda existem aqueles que criticam até hoje, os pobres dos retirantes.
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